Muito se questiona sobre a ligação temporo-causal entre o sintoma de cansaço crônico e os altos níveis de estresse. Será que o estresse pode estar tão descontrolado a ponto de contribuir para o esgotamento energético corporal?
Ou será que a falta de energia figura como um dos principais contribuidores para o estresse?
Mais importante do que responder à pergunta sobre quem veio antes é identificar duas das entidades mórbidas mais prevalentes e mais subtratadas dentre as alterações funcionais (não detectáveis em exame de sangue ou de imagem). Sim, tanto o cansaço quanto o estresse são causas de grande sofrimento e grande prevalência na população dos tempos de hoje.
Infelizmente a síndrome da fadiga crônica, hoje reconhecida por órgãos internacionais, teve seu diagnóstico bastante simplificado, ainda é taxada por muitos como fraqueza de caráter (preguiça) ou confundida com depressão. Por isso é muitas vezes chamada de “diagnóstico do sétimo médico”. Hoje pode ser enquadrada na síndrome da fadiga crônica qualquer pessoa que sofra de cansaço incapacitante para atividades diárias de duração maior que 6 meses, que não melhora com o repouso e que curse com dores musculares e/ou alterações imunológicas.
Já o estresse crônico cursa com uma hiperativação do mecanismo de sinalização neural de sobrevivência primitiva do cérebro, e a pessoa parece estar sempre em estado de “alerta”, sem conseguir relaxar. Este estado contribui para insônia e esgotamento das reservas de vitaminas e minerais, levando a desequilíbrios hormonais múltiplos, agravando, por conseguinte, o cansaço crônico.
Desencadeia-se então um processo inflamatório crônico sistêmico que espalha sintomas como intolerâncias e alergias alimentares, podendo inclusive iniciar e perpetuar processos auto-imunes no organismo.
A pessoa em sofrimento entra em um círculo vicioso em que não sabe como sair e acaba por tentar se aventurar em exercícios físicos de média ou alta intensidade, o que agrava ainda mais o quadro.
O tratamento do estresse envolve reduzir a susceptibilidade individual através de diversas técnicas reconhecidas e identificar e tratar registros traumáticos que fazem nosso cérebro “reviver” e assim desencadear alterações psico-neuro-endócrino-imunológicas.
Já o tratamento do cansaço crônico envolve muitas vezes suplementação vitamínica, mineral ou hormonal com identificação e exclusão de possíveis causas orgânicas (câncer, apneia do sono, anemia, infecções, etc.).
A abordagem multifatorial e multiprofissional é essencial no processo diagnóstico e terapêutico de ambas as entidades. Nessa situação é necessário que todos os sintomas sejam valorizados a fim de que a correta investigação seja oferecida ao paciente.